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sábado, 30 de julho de 2011

O último catraieiro

Na sexta-feira (29), a última do sétimo mês deste 2011, eu estava interessado em clicar algumas fotos do igarapé de São Raimundo. O tradicional afluente do rio Negro divide os bairros Glória/São Raimundo no lado oeste, mais Aparecida/Presidente Vargas no centro e, prossegue, até passar por baixo da antiga ponte que liga os bairros da zona oeste próximo ao subúrbio Santo Antônio, com a avenida Kako Caminha e o Boulevard Amazonas, atual avenida Álvaro Maia em Manaus. 

Antigamente, havia o costume de passar caminhando do final da rua Leonardo Malcher, para a Wilkens de Matos no bairro Aparecida por dentro da velha Serraria Mathias. 

Ocorreu, que o portão visualizado ao fundo da foto estava fechado e o ponto de atracação das catraias havia sido ocupado por várias embarcações.  
Então, fiquei isolado no final da popular Leonardo - assim nós a identificávamos - para ser socorrido pelo 'Bebé', o Vanildo Andrade da Costa nascido no sétimo dia de julho do ano pós-guerra de 1947. Ele é um sobrevivente da atividade de catraieiro, pelo menos nessa parte da cidade.  

Já passavam de duas décadas, que eu não fazia esta travessia de canoa ou, nas antigas catraias, o que era muito comum até a inauguração da ponte Senador Fábio Lucena, que fez a conexão entre os bairros de Aparecida e São Raimundo em 1987. 


Bebé é um dos mais populares moradores do bairro que homenageia  Nossa Senhora da Glória. Na minha infância, vi o auge da sua fase adulta. Ao reencontrá-lo, conversamos rebuscando um passado simples e maravilhoso neste lado da cidadeMe disse orgulhoso ter deixado de ingerir bebida alcoólica há 35 anos e relatou que há sete, conduz a última "catraia". 

Foi a unidade restante de tantas que ficavam ancoradas ao lado do antigo Matadouro Municipal para  fazer a travessia no mesmo local, onde atualmente ele preserva a mesma tarefa usando um modelo bem fora do padrão daquela época. Recordamos dos antigos catraieiros, que faziam o trabalho árduo, mas compensador, se comparado com a solidão atual. Ele herdou poucos passageiros deste resistente meio de transporte fluvial urbano.
 
Lembro bem ter alugado por diversas vezes, aquelas antigas e caprichadas embarcações para passar horas no rio Negro. Era uma alternativa para uma diversão muito explorada pelos jovens do bairro.

Antes, havia toldo protetor do sol para tripulante e usuários. Agora, é recomendável usar proteção individual. 

O preço a ser pago para Bebé pelo transporte, custa R$: 1,00 (um real) e o serviço  funciona um pouco antes das 06h00 até às 19h00 ou mais, se for necessário,  informou.
Deixo aqui os votos de boa sorte e muita saúde para que o Bebé, com seu jeito simples, continue servindo a todos que procuram esta opção de condução, enquanto ela  resistir ao tempo e as mudanças inevitáveis na capital amazonense.



*Esta postagem faz parte das homenagens do blog, aos 99 anos do bairro Glória.


*Homenagem póstuma ao meu tio - irmão da minha saudosa mãe, falecida em 1972 - Augusto Bispo, o popular "Caboclo" (falecido em 1976), que também desempenhou essa atividade de respeito e inquestionável dignidade.


Texto e fotos: Aldemir Bispo

Informações complementares: Wikipédia

*Veja também a postagem do Clube da Baladeira


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